domingo, 16 de dezembro de 2012

Na Noite


A noite é um vazio sem fim
É uma falsa busca
É uma busca por nada.

                Na noite as pessoas são corpos. Tu és um corpo. Eu sou um corpo. Na noite, só existem formas: curvas, volumes, espaço, falta de espaço. Teus olhos parecem ficar mais azuis com essa camiseta. Ilusão. Sexo. Fantasia. Geometria. Picasso. Cubos? Hipérboles! Na noite, nada é cartesiano.
               Na rua, uma mesa apertada, quatro cadeiras, quatro amigos – três meninos, uma menina - quatro copos, uma cerveja.
No bar, toca um álbum antigo do Chico Buarque. Cigarros acesos. França?
                Na noite as pessoas são corpos.
                Levantei-me da mesa ainda um pouco tonto da cerveja. Fitei de relance o volume de Bukowski que repousava na mesa ao lado. Não havia ninguém olhando. Fui ao banheiro. Fila. Conversas aleatórias com pessoas estranhas. Já havíamos entrado algumas horas do novo dia, ainda iríamos a uma balada duas quadras dali.
                Lugar apertado. Calor. Álcool. Álcool. Álcool.  Beijo na boca. Na noite, as pessoas são corpos. Beijo um, dois, três, quatro corpos.  Na noite não há sentimento. Somos todos corpos. Formas. Geometria. Lobachevski. Álcool. Sentei-me num sofá que ficava no segundo andar. Comigo trazia o último corpo que havia escolhido na noite. Tu julgas as pessoas que estão aqui, não é? Tu as julgas, mas não esqueça que tu estás no meio delas.
A noite é um cardápio humano. Na noite, eu consumo álcool, eu consumo tabaco, eu consumo corpos.
                Na noite não há sentimento, não há paixão. E, se não há paixão, não há vida. Na noite as pessoas estão mortas! Dançam os cadáveres frenéticos da noite.
                Acordei com os ossos doídos. Tomei um banho demorado, passei café extraforte, servi-me uma xícara, acendi um cigarro.
                O dia estava ensolarado e eu fui à janela começar a ler o meu mais novo exemplar de Memórias de um Velho Safado.

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