sábado, 17 de novembro de 2012

Mandala Profana

    A beleza do homem vem da tristeza de se saber humano*. Não há nada que eu faça ou pense que não seja intrinsecamente humano - nenhum átomo de divindade habita o meu corpo. Desde antes de ter um corpo, eu já era humano. Incompleto em tudo que sinto, imperfeito em tudo que faço: profano, demasiado profano.
    Sou elo ainda aberto de uma longa corrente, de muitas correntes. Sinto-me totalmente amarrado em minha humanidade. Não tenho culpa e ninguém o tem. Como diria o Romeu de Shakespeare, sou um tolo do destino. Mas, se preso à humanidade, não a nego: aceito-a, vivo-a em cada gota de sangue, de suor, de lágrima. Banho-me no que ela me oferecer - nas águas do Nilo ou nas areias do Saara.
     Renuncio ao panteão, apago minhas mandalas. Meus Elísios estão diante do espelho, para fora de minhas janelas.
 

  Escrito por Guilherme Castro e Nathan Willig


* frase inspirada num comentário de Vinícius de Moraes em um show durante a música Samba da Benção.

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