O dia iniciava diferente naquela
pequena cidade perdida no meio do nada. A estrela d’alva encontrava,
finalmente, companhia - via brilhar uma companheira, que resplandecia lúcida no
terceiro planeta desse sistema solar.
O Sol surgia tímido no horizonte, esperançoso pelas boas novas que o novo dia inspirava. A cidade estava iluminada. E iluminada estava a pele de Clarice. Pele alva, cabelos loiros até a cintura. Clarice sentava-se serena no banco da praça da cidade. No seu corpo, nenhuma roupa, nenhum tecido, nenhum adorno exceto uma fita de Nosso Senhor do Bom Fim que deixava amarrada em uma canela. A pele branca da menina resplandecia na modesta praça da humilde cidade. Apesar das curvas e volumes característicos de uma bela menina de dezenove anos, sua postura não invocava vulgaridade. Sua imagem equilibrava-se entre a sensualidade e o místico – parecia uma fada, uma linda fada, que repousava nua , meditativa, indiferente. A manhã iniciava levemente fria, deixando o corpo da jovem arrepiado, os seios rijos, os lábios vermelhos.
Um dia, quando muito pequena, Clarice havia lido um romance sobre um jovem que buscava encontrar o país onde todos são amigos. Naquele tempo, a menina perdeu toda semente de maldade que poderia haver em seu coração. Os anos passaram, e a mente da jovem ficava mais terna e tranquila. A pequena e ansiosa Clarice serenou. No dia em que se sentou nua na praça, estava tranquila, estava feliz. Não sabia o que viria pela frente – tudo era incerto: não tinha dinheiro consigo, não tinha nenhuma posse, não tinha sequer roupas. Teria ainda um nome? A incerteza não a angustiava. Clarice apenas repousava extática.
Aos poucos, formavam-se grupos ao redor da praça. Apontavam para menina, que se misturava com a natureza de forma tão despreocupada que alguém poderia pensar que ela sempre estivera ali. Nos olhares e nos discursos dos cidadãos, poderia se encontrar desejo, censura, raiva, inveja. A nudez de Clarice incomodava, da mesma forma que a luz fere os olhos daqueles que passam muito tempo na escuridão. A pureza dos belos seios machucava as mentes poluídas de dogmas das velhas senhoras. Clarice parecia não ouvir os comentários daqueles que passavam. Aqueles que passavam não conseguiam fingir que não viam Clarice.
O dia passava, e ninguém sabia o que se sucederia. Nem mesmo Clarice o sabia. O dia passava, e a cidade lentamente se acalmava. A necessidade de seguir os compromissos normais de uma cidade, mesmo que pequena, pressionava as pessoas a seguirem suas vidas, ainda que quisessem viver a vida de Clarice.
E por que não viver a vida de Clarice? Que força era essa que puxava todos, todos os dias, para seus trabalhos, para seus relacionamentos, para suas casas: para suas prisões? Talvez muitos que passaram por aquela praça tenham se perguntado isso, poucos tiveram a ousadia de responder. Dentre esses poucos, um grupo ainda menor resolveu acreditar em sua resposta.
O Sol caía contente no poente, e a praça escurecia com Clarice acompanhada de outras quatro pessoas nuas. Foram se chegando um a um. Não trocaram nenhuma palavra. Sequer trocaram um olhar. Não houvera comunicação, mas havia comunhão. Não precisaram dizer nada, seus corações já tinham concordado em tudo. Estavam todos em paz. Estavam todos em união. Não havia roupa, nem compromisso, nem pecado, nem separação. No dia seguinte, poderiam conversar sobre o sincero comunismo que acabava de ser implantado na praça da cidade.
O Sol surgia tímido no horizonte, esperançoso pelas boas novas que o novo dia inspirava. A cidade estava iluminada. E iluminada estava a pele de Clarice. Pele alva, cabelos loiros até a cintura. Clarice sentava-se serena no banco da praça da cidade. No seu corpo, nenhuma roupa, nenhum tecido, nenhum adorno exceto uma fita de Nosso Senhor do Bom Fim que deixava amarrada em uma canela. A pele branca da menina resplandecia na modesta praça da humilde cidade. Apesar das curvas e volumes característicos de uma bela menina de dezenove anos, sua postura não invocava vulgaridade. Sua imagem equilibrava-se entre a sensualidade e o místico – parecia uma fada, uma linda fada, que repousava nua , meditativa, indiferente. A manhã iniciava levemente fria, deixando o corpo da jovem arrepiado, os seios rijos, os lábios vermelhos.
Um dia, quando muito pequena, Clarice havia lido um romance sobre um jovem que buscava encontrar o país onde todos são amigos. Naquele tempo, a menina perdeu toda semente de maldade que poderia haver em seu coração. Os anos passaram, e a mente da jovem ficava mais terna e tranquila. A pequena e ansiosa Clarice serenou. No dia em que se sentou nua na praça, estava tranquila, estava feliz. Não sabia o que viria pela frente – tudo era incerto: não tinha dinheiro consigo, não tinha nenhuma posse, não tinha sequer roupas. Teria ainda um nome? A incerteza não a angustiava. Clarice apenas repousava extática.
Aos poucos, formavam-se grupos ao redor da praça. Apontavam para menina, que se misturava com a natureza de forma tão despreocupada que alguém poderia pensar que ela sempre estivera ali. Nos olhares e nos discursos dos cidadãos, poderia se encontrar desejo, censura, raiva, inveja. A nudez de Clarice incomodava, da mesma forma que a luz fere os olhos daqueles que passam muito tempo na escuridão. A pureza dos belos seios machucava as mentes poluídas de dogmas das velhas senhoras. Clarice parecia não ouvir os comentários daqueles que passavam. Aqueles que passavam não conseguiam fingir que não viam Clarice.
O dia passava, e ninguém sabia o que se sucederia. Nem mesmo Clarice o sabia. O dia passava, e a cidade lentamente se acalmava. A necessidade de seguir os compromissos normais de uma cidade, mesmo que pequena, pressionava as pessoas a seguirem suas vidas, ainda que quisessem viver a vida de Clarice.
E por que não viver a vida de Clarice? Que força era essa que puxava todos, todos os dias, para seus trabalhos, para seus relacionamentos, para suas casas: para suas prisões? Talvez muitos que passaram por aquela praça tenham se perguntado isso, poucos tiveram a ousadia de responder. Dentre esses poucos, um grupo ainda menor resolveu acreditar em sua resposta.
O Sol caía contente no poente, e a praça escurecia com Clarice acompanhada de outras quatro pessoas nuas. Foram se chegando um a um. Não trocaram nenhuma palavra. Sequer trocaram um olhar. Não houvera comunicação, mas havia comunhão. Não precisaram dizer nada, seus corações já tinham concordado em tudo. Estavam todos em paz. Estavam todos em união. Não havia roupa, nem compromisso, nem pecado, nem separação. No dia seguinte, poderiam conversar sobre o sincero comunismo que acabava de ser implantado na praça da cidade.
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