sábado, 23 de março de 2013

Dois olhos



Uma noite de início de primavera mais quente do que o comum. O casal continuava abraçado na cama, embora com fome, embora com sede, embora estivesse passando o final do filme que eles deixaram de assistir na metade. O primeiro, dos olhos castanhos, beijou a bochecha avermelhada do outro; já o outro, dos olhos negros, apenas suspirou agradavelmente. Passaram as mãos um no corpo nu do outro, com sorrisos no rosto. O dos olhos castanhos falou, enquanto acariciava a barriga do outro: “No mês que vem passarei duas semanas fora. Espero que não esqueça de mim”. O dos olhos negros respondeu com um olhar risonho e um beijo doce nos lábios. Os dois dormiram abraçados.
Na manhã seguinte, o de olhos negros acordara mais cedo e colocara o café na mesa. Os dois comeram-no rapidamente e foram cada um para seus respectivos empregos. No horário de almoço, em frente ao caixa para pagar a conta, o dos olhos castanhos abriu a carteira e encontrou um bilhete dobrado. Entregou o dinheiro ao atendente enquanto abriu o papel, com o seguinte poema:

Não sinto como se nós
Fossemos um só;
Sinto-nos como dois,
O que é muito melhor.

“O senhor ficou satisfeito”, perguntou o atendente. A resposta foi dada com os olhos do castanho mais brilhante de todos.

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