Lembro-me de quando ela trazia doce de leite em potes de Nescafé. Ela era ranzinza e até um pouco amarga. Nas suas palavras, não havia muito amor : o carinho vinha no pote de café.
Levava um dia inteiro fazendo o doce preferido do neto para vê-lo feliz quando ia a Porto Alegre, mas nunca lhe disse um eu te amo.
Sinto saudade de ver aquela senhora franzina com o cabelo metodicamente arrumado. No corpo, sempre uma saia longa e ,no rosto, algum creme anti-rugas.
Não conversei muito com minha vó. Aproximamo-nos apenas nos últimos dias de sua vida. Engraçado ver como aquela senhora rígida dotou-se de um extremo bom humor naquele período tão triste. Talvez eu não tenha aprendido muito sobre a vida com ela; mas, certamente, aprendi muito sobre a morte.
Nunca mais comi um doce de leite como o dela. Nunca mais ouvi cantigas em alemão antes de dormir. Nunca mais recebi carinho em potes de café.
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